A angústia não está no que você diz, mas em quem você é

João Pedro Borges Gomes

10/3/20252 min read

"A Angústia não está ligada à fala, mas àquele que fala."

— Jacques Lacan, 1962

Essa poderosa frase do psicanalista Lacan nos convida a uma reflexão profunda sobre a angústia que sentimos. Ela não nasce de um evento externo ou de um trauma isolado, mas do nosso próprio ato de sermos sujeitos.

A angústia surge no momento exato em que precisamos dar forma ao que sentimos. Ela está no ato de falar, no esforço de encontrar palavras para descrever a complexidade de uma situação, no árduo trabalho de transformar um pensamento íntimo em uma declaração verbal.

A Angústia do "Ter que Falar"

A verdadeira tensão está na diferença entre falar e ter que falar.

Falar pode ser um ato trivial, um bate-papo descontraído. Mas o ter que falar – especialmente em um contexto terapêutico ou de confronto com a própria vida – é uma tarefa que nos confronta com nossa verdade, nossas resistências e nossas impossibilidades.

A angústia, nesse sentido, nos lembra que o sofrimento não é sobre o que se diz, mas sobre a posição do sujeito em relação ao seu próprio dizer. É a dor de perceber que a linguagem, nossa principal ferramenta de comunicação e análise, é inerentemente falha.

O Abismo da Linguagem

É aqui que o paciente, ou qualquer pessoa em profunda introspecção, se depara com o chamado abismo da linguagem:

Existe uma impossibilidade estrutural de abarcar a totalidade de si mesmo através das palavras. Você se confronta com a distância entre o que você gostaria de expressar e o que você efetivamente consegue verbalizar. Você percebe que nenhuma palavra, por mais precisa que seja, é capaz de te definir por completo.

Isso não é um defeito individual, mas uma característica estrutural de todo ser humano.

Por Que a Angústia é Necessária na Análise?

Na terapia, a angústia nunca é um obstáculo. Pelo contrário: ela é o sinal mais genuíno de que o processo analítico está em andamento.

Ela revela as tensões, os impasses e os desejos do sujeito que estão prestes a vir à tona. É essa dor do "ter que falar", do confrontar a falha da linguagem e a própria verdade, que move a análise adiante.

É através desse desconforto que o paciente tem a chance de, finalmente, construir a sua própria história de uma forma nova e mais consciente. A angústia, portanto, não é para ser evitada, mas sim escutada.