O que a psicanálise diz sobre o Burnout?

PSICANÁLISEBURNOUT

João Pedro Borges

10/7/20253 min read

A Síndrome de Burnout (ou Esgotamento Profissional) tem ganhado destaque. Começa como um cansaço intenso e pode evoluir para um colapso físico e mental, quase sempre ligado ao ambiente de trabalho. Mas, se o problema parece estar no trabalho, por que a solução não é tão simples quanto "tirar férias" ou "mudar de emprego"?

Para além da carga horária, o esgotamento é um sinal profundo de que algo na nossa mente está em sofrimento. Ele nos convida a olhar para as raízes emocionais que nos levam a essa exaustão.

A Busca pela Perfeição e o Preço Pessoal

Um dos pontos-chave para entender o burnout é a forma como construímos a imagem que temos de nós mesmos.

Muitas pessoas que chegam ao esgotamento carregam um padrão de exigência excessivamente rígido e inalcançável. É aquela voz interna que insiste:

"Eu tenho que dar conta de tudo."

"Eu não posso falhar ou decepcionar ninguém."

"Meu valor só existe se eu for produtivo."

Na tentativa desesperada de alcançar essa imagem de "super-herói" do trabalho, o indivíduo se anula e se submete a uma carga impossível de sustentar. O trabalho, que deveria ser um meio de realização, se transforma em um campo de batalha onde é preciso provar o próprio valor o tempo todo.

O burnout, nesse sentido, é a quebra desse ideal. É o momento em que o Eu real (aquele que sente, se cansa e tem limites) não aguenta mais ser esmagado pela versão idealizada (o "perfeito" e incansável).

Como o Burnout se Manifesta

Os sintomas do burnout não são apenas cansaço. Eles atingem o corpo e a mente de forma sistêmica, servindo como um alerta de que o limite foi ultrapassado. Os principais sinais incluem:

Exaustão Física e Emocional: Um cansaço profundo que não passa com o descanso ou sono. A sensação de estar constantemente "sem bateria".

Distorção da Distância Mental do Trabalho: Sentimentos de cinismo, negatividade e distanciamento em relação às suas atividades profissionais. O trabalho se torna um peso insuportável.

Perda de Eficácia e Produtividade: Redução no desempenho e na sensação de competência, mesmo em tarefas que antes eram simples de realizar.

Sintomas Físicos: Dores de cabeça e musculares frequentes, distúrbios do sono (insônia ou sono não reparador), problemas gastrointestinais e baixa imunidade.

Sintomas Emocionais: Irritabilidade, ansiedade constante, sensação de fracasso e desesperança.

A Sobrecarga: Quando a Necessidade Ignora o Limite

Para a maioria da população brasileira, o trabalho é uma obrigação financeira. As pessoas trabalham porque precisam do dinheiro para (sobre)viver e sustentar suas famílias, e nem sempre a há a possibilidade de sair ou mudar de emprego. Grande parte das vezes, isso nem é uma possibilidade.

Portanto, o burnout acontece justamente no momento em que a cobrança externa acaba sendo maior do que o próprio funcionário. Ele passa a tolerar grande parte das atrocidades que vive em seu ambiente de trabalho por medo de uma possível demissão. Passa a fazer coisas que não estavam em seu contrato para que não seja demitido. Essas coisas começam a criar uma carga negativa no indivíduo que o adoece.

Existe uma diferença fundamental entre trabalhar por vontade ou necessidade e trabalhar por excesso destrutivo:

Vontade/Necessidade é o que nos move para buscar o sustento e, se possível, alguma satisfação (um projeto, um descanso reparador). Está ligado à busca de sentido.

O excesso, nesse caso, diz respeito ao desvalor que é atribuído ao funcionário. "Como é contratado, deve fazer tudo que mandar."

O colapso acontece quando a pessoa não se sente à vontade para dizer "não". O corpo é quem, por fim, grita através da doença e da exaustão: "Basta! Há um limite!"

O Que a Terapia Pode Fazer por Você?

O caminho para sair do esgotamento não é apenas gerenciar o tempo ou praticar relaxamento. É preciso ir à raiz do conflito.

A terapia oferece o espaço de escuta necessário para:

Entender o Vazio: O burnout pode ser, muitas vezes, uma tentativa de preencher com produtividade um vazio interno. A terapia ajuda a encarar esse vazio de forma saudável, em vez de tentar tapá-lo com trabalho.

Repensar a Exigência: Por que o seu valor pessoal está tão ligado ao sucesso profissional? De onde veio essa necessidade de ser perfeito?

Resgatar a Vontade: Separar-se do ciclo destrutivo e reencontrar a vontade de ter uma vida que inclua prazer, descanso e um trabalho que faça sentido, não apenas que pague contas.

Se você sente que o cansaço virou um modo de vida, se a alegria foi drenada e o trabalho ocupa todos os espaços, talvez seja o momento de dar voz a esse sofrimento. O burnout é um sinal. A terapia é o caminho para escutá-lo e reescrever a sua história

Você se identificou com essa busca incessante pela perfeição? Se sim, um processo terapêutico pode ser o seu primeiro passo para renegociar seus limites e reencontrar o prazer de viver. Entre em contato e vamos conversar sobre isso.